4 de mai. de 2013

VOLUMETRIAS instalação/performance - cubo reinventado Espaço Espanca - 2013

Fiz um experimento novo. Usei um video/documentação de uma performance (Objetos do Desejo/1999) que queria muito usar assim, agigantado, aproximando-se da imagem real, compondo  uma instalação de uns 50 moveis empilhados no espaço. Esta instalação, além de remeter-se à performance Objetos do Desejo, se aproxima dos Ataques Barrocos e do trabalho Cama, mesa e Escada.
Hoje vamos manipular e ativar esta instalação como a performance Volumetrias.
Volumetrias por sua vez foi um experimento de empilhamento/arquitetura de corpos criada para a Bienal de 2010 (ver imagens neste blog).



Este reaproveitamentodo da memória/documento enriquece o desenvolvimento de uma linguagem e revigora o sentido de todas estas obras!  O encontro de momória e mídia também é algo novo em minhas experiências. Um projetor grande angular, o som da performance e todos os movimentos sonoros que serão amplificados por microfones, agigantam a presença das ações ao extremo de um aglomeramento que vai falar de nossas acumulações materiais, emocionais e de nossa existência como um todo.






Cubo Reinventado
o projeto tem curadoria de Inês Grosso e Marina Câmara 


Marco Paulo Rolla
Volumetria, 2013
Instalação-performance com móveis, objetos diversos e cabelo artificial
Microfones condensadores e sistema de amplificação do som ao vivo
Projeção vídeo: Objetos de desejo, 1999, cor, 20min.

É improvável pensar a obra de Marco Paulo Rolla sem refletir sobre a desconstrução da posição hierárquica entre sujeito e objeto. Se “o uso servil fez uma coisa (um objeto) daquilo que, profundamente, é da mesma natureza que o sujeito[1], em seu trabalho, desde o processo criativo, Marco Paulo Rolla parece concordar com a seguinte proposição: “É preciso pelo menos destruí-los [os objetos] enquanto coisas, enquanto se tornaram coisas.”[2]
Na instalação e performance Volumetria, 2013, diferente de outros trabalhos de Rolla, a destruição é operada não diretamente na matéria, mas sobre a ontologia que rege os estatutos de sujeito e de objeto. Nesta obra vemos, concomitantemente à destruição da condição dos objetos – sua coisificação –, uma tomada de posição do artista que foge àquela a que nós, hierarquicamente em posse da condição de sujeitos, estamos habituados. O artista parece sair de si ou, ao menos, sair deste lugar do sujeito, se abrindo para novos modos de mensurar seu próprio volume, sua existência, ao mesmo tempo em que os objetos – na figura dos móveis – são desarraigados de sua servidão – de seu caráter utilitário – e introduzidos em uma zona puramente imaginária, porvir, localizada entre sua ex-posição de coisa e a emancipatória categoria de sujeito.
Para Rolla, este processo não se confunde absolutamente com a tentativa de humanização ou sujeitificação dos objetos ou mesmo do mundo. Ele coloca também a si mesmo nesta zona de indeterminação entre sujeito e objeto, ao invés de imprimir ao mundo seu modelo, consciente que é sobre o fato de que “ninguém pode fazer uma coisa do próprio outro [...] sem ao mesmo tempo se afastar daquilo que ele mesmo é intimamente, sem se dar os limites da coisa[3].
Para isso a rebelião em Volumetria é uma dialética – propositalmente irresoluta: móveis e corpos se organizam e se des-organizam para comporem uma situação escultórica em que a gravidade, elemento tão estudado em suas obras, nos lembra de nossa condição impreterivelmente ligada, como todas as outras coisas do mundo, à terra. A cotidianidade estável do posicionamento dos móveis é perturbada e sua inércia é desativada pelos performers que os colocam em moto. Esta movimentação conjunta traz à tona a “voz” destes objetos: seus sons passam a ser um dos modos de mensurar o volume da sala, sua ocupação. Por fim, esta movimentação dirige corpos e móveis ao novo modo de medir seus próprios volumes, suas volumetrias, suas formas de habitar o mundo.
É, portanto, improvável não ser então tocado pela noção de transformação: um imperativo que tem sua irredutibilidade posta pelo trabalho de Rolla, seja pela destruição de estatutos, seja pela nova configuração ontológica que as esculturas de móveis e de corpos propõem, mas, sobretudo, pela abertura às imagens que o mundo, na figura dos outros, projeta em nós. Como os performers, também nós, espectadores, experimentamos esta [trans]forma, esta abertura dos corpos às "coisas", ao mundo.
Marina Câmara


[1] BATAILLE. Georges. A parte maldita. Precedida de A noção de despesa. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975, p. 94.
[2] Ibidem.
[3] Ibidem. 

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